HOJE - Alimentação e Pecado

A Gula
Seguindo o esquema académico tradicional do Catecismo da Igreja Católica (c. 1866), a Gula é um dos sete pecados capitais (do latim gula: garganta, boca). A sua formulação e sistematização foi realizada por S. Tomás de Aquino (séc XIII). Chamam-se capitais porque, de acordo com a etimologia da palavra, são pecados que estão na origem de outros pecados ou geram outros vícios (CIC, 1866). Os pecados capitais (Avareza, Gula, Inveja, Ira, Luxúria, Orgulho e Preguiça) são paixões fundamentais do ser humano que se converteram em vícios. São os instintos primários de conservação da própria vida e da própria espécie. A Gula seria o apetite pela vida.
Pode considerar-se a gula como apetite e o apetite como fome de viver. Há uma estreita ligação entre vida e morte, entre alimentar-se e servir de alimento. O alimentar-se aparece como um desejo de supremacia, de domínio do outro, de luta pela sobrevivência.
Fundamentalmente, a gula é o abuso do prazer no comer e beber, tão necessário para a conservação da pessoa. É o gosto desordenado pelos prazeres da mesa, do comer e do beber. A desordem consiste em procurar o prazer do alimento como um fim em si mesmo. Consiste em procurar o excesso, sem ter cuidado com a própria saúde.
A gula materializa o homem e enfraquece a sua actividade intelectual e moral. É considerado um pecado capital, ou grave, porque causa outros males. Com efeito, o excesso do comer e do beber prejudica a saúde e está na origem de gastos que colocam em perigo o património familiar.
A falta de cuidado com o excesso do comer e do beber conduz à falta de cuidado com a língua. Diz-se o que não se deve e assim se descobrem segredos pessoais, familiares e profissionais. A gula tem como consequência a maledicência, a calúnia e a murmuração. Faz com que se prometam coisas que não se podem cumprir e se cometam imprudências.
Grande parte dos acidentes pessoais ou profissionais deve-se à gula, aos abusos descontrolados do comer e do beber. O remédio está em considerar-se que o prazer nunca deverá ser um fim em si mesmo mas apenas um meio que há-de estar subordinado à razão.

Deve-se procurar comer e beber com moderação para nosso bem e para bem dos outros. Dizem os entendidos que a frugalidade no comer e no beber é a condição fundamental para a saúde física e intelectual. Deve-se sair da mesa com uma certa sensação de leveza e de vigor, ficar-se com um pouco de fome e evitar a sensação de peso provocada pelas carnes fortes. Uma vez que se come para viver, deve-se comer saudavelmente para se poder viver sudavelmente.
Carlos Freitas

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