S. Martinho de Tours
Dia 11 NOV, no Calendário
Litúrgico, é o dia de S. Martinho.
S. Martinho nasceu na Panónia, na
atual Hungria, no ano 316. O pai orientou-o para a carreira militar. Ainda
catecúmeno, deu prova de coerência e de amor cristão para com os pobres.
Recebido o batismo, orientado por S. Hilário de Poitiers, deixou as armas e
consagrou-se a Deus na vida monástica. Começou por viver como eremita. Depois,
sempre aconselhado por S. Hilário, fundou em Ligugè o primeiro mosteiro cristão
do Ocidente. Em 373 foi escolhido para bispo de Tours. Até à morte, ocorrida em
397, dedicou-se com incansável solicitude à formação do clero, à pacificação
entre os povos e à evangelização. Foi um dos primeiros santos, não mártires, a
ser honrado pela liturgia da Igreja.
Durante toda a Idade Média e até
uma época recente, S. Martinho foi o santo mais popular de França. O seu
túmulo, abrigado desde o séc. V por uma Basílica (sucessivamente destruída e
reconstruída) em Tours, era o maior centro de peregrinação de toda a Europa
Ocidental.
A sua generosidade e humildade,
aliadas a uma enorme fama de milagreiro fizeram dele um dos santos mais
queridos da população.
Ainda hoje o seu espírito
continua a ser fonte de inspiração: em 2005, S. Martinho foi reconhecido pelo
Conselho Europeu personnage européen, symbole du partage, tendo este conceito
de partilha revestido uma oportuna contemporaneidade.
S. Martinho é também santo
patrono dos alfaiates, dos cavaleiros, dos pedintes, dos restauradores (hoteis,
pensões, restaurantes), dos produtores de vinho e dos alcoólicos recuperados,
dos soldados… dos cavalos, dos gansos, e orago de uma série infindável de
localidades de Beli Benastir, na Croácia, a Buenos Aires, na Argentina passando,
evidentemente, por numerosíssimas sítios de Norte a Sul de Portugal.
O facto de o seu dia coincidir com a época do ano em que se
celebra o culto dos antepassados e com a altura do calendário rural em que
terminam os trabalhos agrícolas e se começa a usufruir das colheitas leva a que
a festa deste Santo tenha toda uma componente de exuberância que actualmente
tende a prevalecer.»
Assim, em Portugal, o dia de S. Martinho é invocado nas
cerimónias religiosas dos locais de culto, e o seu espírito de solidariedade
lembrado, quanto mais não seja, através do relato do episódio em que partilhou
a sua capa com um pobre; mas de resto, e por todo o lado, as pessoas andam
ocupadas nas actividades mencionadas nos provérbios sobre este dia: assam-se
castanhas, prova-se o vinho...
A história de S.
Martinho
Diz a lenda que Martinho,
nascido na Hungria em 316, era um soldado. Era filho de um soldado romano. O
seu nome foi-lhe dado em homenagem a Marte, o Deus da Guerra e protetor dos
soldados. Aos 15 anos vai para Pavia (Itália). Em França abraçou a vida
sacerdotal, sendo famoso como pregador. Foi bispo de Tous.
Certo dia de Novembro, muito frio e
chuvoso, estando em França ao serviço do Imperador, ia Martinho no seu cavalo a
caminho da cidade de Amiens quando, de repente, começou uma terrível
tempestade. A certa altura surgiu à beira da estrada um pobre homem a pedir
esmola.
Como nada tivesse, Martinho,
sem hesitar, pegou na espada e cortou a sua capa de soldado ao meio, dando uma
das metades ao pobre para que este se protegesse do frio. Nessa altura a chuva
parou e o Sol começou a brilhar, ficando, inexplicavelmente, um tempo quase de
Verão.
Daí que esperemos, todos os anos, o Verão
de S. Martinho. E a verdade é que S. Martinho raramente nos decepciona. Em
sua homenagem, comemoramos o dia 11 Novembro com as primeiras castanhas do ano,
acompanhadas de vinho novo. É o Magusto, que faz parte das tradições do nosso
país.
Mais tarde terá tido uma visão de Jesus e
decidiu dedicar-se à vida monástica. Faleceu a 8 de Novembro de 397 em Tours.
Acerca do assunto, escreve o conceituado etnólogo Ernesto Veiga de Oliveira (1910-1990) o
seguinte:
O S. Martinho, como o dia de
Todos os Santos, é também uma ocasião de magustos, o que parece relacioná-lo
originariamente com o culto dos mortos (como as celebrações de Todos os Santos
e Fiéis Defuntos). Mas ele é hoje sobretudo a festa do vinho, a data em que se
inaugura o vinho novo, se atestam as pipas, celebrada em muitas partes com
procissões de bêbados de licenciosidade autorizada, parodiando cortejos
religiosos em versão báquica, que entram nas adegas, bebem e brincam livremente
e são a glorificação das figuras destacadas da bebedice local constituída em
burlescas irmandades. Por vezes uma dos homens, outra das mulheres, em alguns
casos a celebração fracciona-se em dois dias: o de S. Martinho para os homens e
o de Santa Bebiana para as mulheres (Beira Baixa). As pessoas dão aos
festeiros. vinho e castanhas. O S. Martinho é também ocasião de matança de
porco.
Provérbios de S. Martinho
in As Festas - Passeio pelo
Calendário, Fundação Calouste Gulbenkian, Lx 1987
Ia o S.Martinho no
seu cavalinho,
Viu um rapazinho a
tremer de frio;
Assim que o viu
saltou para o chão,
Apertou-lhe a mão,
deu-lhe a sua capa.
Tapa as costas tapa,
não fiques molhado!
– Disse o S. Martinho
desagasalhado
A chuva no céu ao ver
esta cena
Sentiu muita pena
decidiu parar.
O sol estava perto,
veio devagarinho
Parecia verão, Verão de S. Martinho.
A cada bacorinho vem
o seu S. Martinho.
· A cada porco vem o
seu S. Martinho.
· Em dia de S.
Martinho atesta e abatoca o teu vinho.
· Martinho bebe o
vinho, deixa a água para o moinho.
· No dia de S.
Martinho, fura o teu pipinho.
· No dia de S.
Martinho, come-se castanhas e bebe-se vinho.
· No dia de S.
Martinho, lume, castanhas e vinho.
· No dia de S.
Martinho, mata o porquinho, abre o pipinho, põe-te mal com o teu vizinho.
· No dia de S.
Martinho, mata o teu porco, chega-te ao lume, assa castanhas e prova o teu
vinho.
· No dia de S.
Martinho, mata o teu porco e bebe o teu vinho.
· No dia de S.
Martinho, vai à adega e prova o teu vinho.
· Pelo S. Martinho
abatoca o pipinho.
· Pelo S. Martinho
castanhas assadas, pão e vinho.
· Pelo S. Martinho
mata o teu porquinho e semeia o teu cebolinho.
· Pelo S. Martinho
nem nado nem no cabacinho.
· Pelo S. Martinho
prova o teu vinho; ao cabo de um ano já não te faz dano.
· O Sete-Estrelo pelo
S. Martinho, vai de bordo a bordinho; à meia-noite está a pino.
· São Martinho,
bispo; São Martinho, papa; S. Martinho rapa.
· Se o Inverno não
erra o caminho, tê-lo-ei pelo S. Martinho.
· Se queres pasmar o
teu vizinho, lavra, sacha e esterca pelo S. Martinho.
· Veräo de S.
Martinho säo três dias e mais um bocadinho.
· Vindima em Outubro
que o S. Martinho to dirá.
Bibliografia:
José Pedro MACHADO - O
Grande Livro dos Provérbios, Notícias, Almada 1996
António MOREIRA - Provérbios Portugueses, Notícias, Almada 1996