Cartas de Amor, quem as não tem...
CARTA PARA a Cultura Ausente
Prof. José Carlos Teixeira
Minha querida e mal amada Cultura:
Tal como os pássaros, quando crescem,
saem do seu ninho e esvoaçam, também contigo estou a sentir estar a acontecer o
mesmo.
Não sei o que fazes, nem por onde andas,
nem que idade tens. Sei que cada dia que passa te sinto “volitar” não sei por,
nem para onde. Noto-o pelos meus motivos, pelas minhas razões! Quando te sinto
e pressinto ausente, o meu coração fica agitado e enfraquecido! Fica assim como
esvaziado de interesses, sabes?! Dizem-me que é normal e que tenho que me
habituar! Pois sim, eu sei! – respondo. Mas,…Tu não apareces e eu fico
estranho. Estranho, mas lúcido, entenda-se!
Quando fico só recorro, frequentemente,
às nossas recordações e tranquilizo-me. É assim que eu mato os tempos mortos:
vivendo o presente a reviver o passado.
Gostaria muito de te ver fazer os teus
projetos, de te ver desenhá-los minuciosamente e encher-me-ias de orgulho
quando, em algum pormenor, eu fizesse parte dele. Contudo!…
Tal como tu, também eu fiz projetos!
Projetos dos quais tu eras a protagonista (e continuas a ser, que fique bem
claro!)… Hoje, abro o livro dos registos muitas vezes rabiscados nas páginas do
tempo e, também neles reparo que o meu papel ativo está quase a chegar ao fim.
Não, não estou a dizer que nos vamos perder ou separar! Nós vamos continuar a
caminhar lado a lado, só que de uma forma discreta. É assim uma espécie de
sombra invisível, sabes? Tu sabes e eu sei que o nosso amor vai ficando
fortalecido (até pela falta de interesse dos nossos semelhantes) e como tal não
precisamos de nos esforçar muito nem mostrar!
“Ontem”
partiste! Não sei se partiste de férias, ou se partiste para não mais voltar! Sempre
que me lembro de ti (e são muitas vezes, acredita!) e não te encontro fico
assim, como que angustiado e preocupado… Chamo-te e suplico-te para não te
atrasares, porém, cada vez tenho menos esperança… Quando me deito fico a olhar
para o teto onde, entre a umbra e a penumbra, resvalo de encontro ao infinito.
Imagino-te a fazeres a mala e a partires por esse mundo além! Cada peça
complexa do conhecimento que vais metendo nela é um pedaço de nós que vai
dentro. E entre os nadas que não vejo e o tudo que intuo existem as pequenas
grandes coisas que me nostalgiam. Como escape, abro a porta do coração e deixo-a
entreaberta para o amor se deslocar à vontade no período das tuas andanças por
outras paragens. Espero que valha a pena! Espero e desespero!
Nos entrementes espero ansioso a tua
chegada e confesso estar já com “borboletas na barriga”, ansioso para te
abraçar e ter alguém, à minha volta, com quem me cumplicie. Tenho muitas coisas
para te contar e espero que tenhas todo o tempo do mundo para me ouvir! Por
isso, volta depressa para a nossa beira! Para a minha beira! Eu sei, eu sei que
de vez em quando fazes visitas relâmpago, como esta. Pudera, é preciso
empurrar-te tanto!...
Sabes, as ilusões que na juventude sonhamos
acabam por morrer. Porém, enquanto vão morrendo e não morrem, vão-nos iludindo
e mantendo amarrados no sonho. Eu, ao longo destes meus anos, tenho-me
escondido, horas a fio, por detrás dos silêncios, da ironia e do nosso amor, na
ânsia de sorrir mais longe e mais confiante. Não tem sido fácil, contudo,
enquanto há esperança, há vida!
Vou confessar-te que a vida tem sido
generosa comigo e eu tenho aproveitado o que de melhor me tem proporcionado. Para
lhe agradecer nada como brindar. Brindarmos! Os copos com que brindarmos
transbordarão de uma amizade infinita, que por isso mesmo, o nosso amor há de
perdurar até para além da vida.
Estas letras que aqui vim declamar e
proclamar são para homenagear a tua maneira sincera e solidária que tens
manifestado para comigo. Esta é uma maneira simples e singela de te dizer com
entusiasmo e paixão que te amo.
Um obrigado aos que te vão empurrando
para eu ter a ventura de te ir vendo. (O brinde é também para eles e elas!)
Desejo-te saúde e todas as venturas. Um
grande e apertado abraço com amizade, admiração e gratidão do teu admirador.
Ex
toto corde
Augustus Yosef