o migrante e o refugiado...

 
DIA MUNDIAL DO MIGRANTE E DO REFUGIADO 
[17 de Janeiro de 2016]
Os emigrantes e refugiados interpelam-nos

No mundo de hoje, a migração mudou e está destinada a aumentar nos próximos anos. A quantidade de pessoas forçadas a migrar, devido a conflitos e perseguições de todo o tipo, os chamados refugiados ou deslocados, ultrapassa os 50 milhões em todo o mundo.
O fenómeno da mobilidade humana implica hoje, muitas vezes, um sofrimento devido ao desenraizamento inevitável do próprio país. Cada pessoa tem o direito a não emigrar, ou seja, a viver em paz e dignidade na própria pátria. Todavia, alguns são obrigados a deslocar-se devido a perseguições, catástrofes naturais, desastres ambientais ou outros fatores que causam dificuldades extremas, inclusive o perigo para a sua própria vida. 
Outros decidem deixar a própria pátria, porque já não podem permitir-se viver com dignidade, enquanto há aqueles que simplesmente desejam encontrar melhores oportunidades de vida no estrangeiro. Por conseguinte, existe uma diferença entre migrantes e refugiados, ou requerentes de asilo. Isto deve ser mantido, embora existam fluxos migratórios «mistos», no âmbito dos quais é difícil distinguir entre os requerentes de asilo classicamente definidos, quantos precisam de outros tipos de proteção ou ajuda, e aqueles que simplesmente aproveitam do fluxo da migração.
 
Atualmente, as pessoas em fuga da sua pátria interpelam os indivíduos e as colectividades, desafiando o modo tradicional de viver e, por vezes, transtornando o horizonte cultural e social com os quais se confrontam. Com frequência, as vítimas da violência e da pobreza, que abandonam as suas terras de origem, sofrem o ultraje dos traficantes de pessoas humanas. Se, entretanto, sobrevivem aos abusos e às adversidades, devem enfrentar realidades onde existem ainda suspeitas e medos. 
 
Hoje, mais do que no passado, somos chamados a impedir que nos habituemos ao sofrimento do outro. Na base desta constatação, o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado de 2016 lembra-nos que os emigrantes e refugiados interpelam-nos. Os fluxos migratórios constituem já uma realidade estrutural, e a primeira questão que se impõe refere-se à superação da fase de emergência para dar espaço a programas que tenham em conta as causas das migrações, das mudanças que se produzem e das consequências que imprimem novos rostos às sociedades e aos povos. Todos os dias, porém, as histórias dramáticas de milhões de homens e mulheres interpelam a comunidade internacional, testemunha de inaceitáveis crises humanitárias que surgem em muitas regiões do mundo. A indiferença e o silêncio abrem a estrada à cumplicidade, quando assistimos como expectadores às mortes por sufocamento, privações, violências e naufrágios.
 
Os emigrantes são nossos irmãos e irmãs que procuram uma vida melhor longe da pobreza, da fome, da exploração e da injusta distribuição dos recursos do planeta, que deveriam ser divididos equitativamente entre todos. Porventura não é desejo de cada um melhorar as próprias condições de vida e obter um honesto e legítimo bem-estar que possa partilhar com os seus entes queridos?
Neste momento da história da humanidade, fortemente marcado pelas migrações, a questão da identidade não é uma questão de importância secundária. De facto, quem emigra é forçado a modificar certos aspectos que definem a sua pessoa e, mesmo sem querer, obriga a mudar também quem o acolhe. Como viver estas mudanças de modo que não se tornem obstáculo ao verdadeiro desenvolvimento, mas sejam ocasião para um autêntico crescimento humano, social e espiritual, respeitando e promovendo aqueles valores que tornam o homem cada vez mais homem no justo relacionamento com Deus, com os outros e com a criação?
De facto, a presença dos emigrantes e dos refugiados interpela seriamente as diferentes sociedades que os acolhem. Estas devem enfrentar factos novos que podem aparecer imprudentes se não forem adequadamente motivados, geridos e regulados. Como fazer para que a integração se torne um enriquecimento mútuo, abra percursos positivos para as comunidades e previna o risco da discriminação, do racismo, do nacionalismo extremo ou da xenofobia?
 
O cultivo de bons contactos pessoais e a capacidade de superar preconceitos e medos são ingredientes essenciais para se promover a cultura do encontro, onde cada um esteja disposto não só a dar, mas também a receber dos outros. De facto, a hospitalidade vive do dar e receber.
 
Nesta perspectiva, é importante olhar para os emigrantes não somente com base na sua condição de regularidade ou irregularidade, mas sobretudo como pessoas que podem contribuir para o bem-estar e o progresso de todos, de modo particular quando assumem responsavelmente deveres com quem os acolhe, respeitando gratamente o património material e espiritual do país que os hospeda, obedecendo às suas leis e contribuindo para os seus encargos. Em todo o caso, não se podem reduzir as migrações à dimensão política e normativa, às implicações económicas e à mera coexistência de culturas diferentes no mesmo território. 
  
Ninguém pode fingir que não se sente interpelado pelas novas formas de escravidão geridas por organizações criminosas que vendem e compram homens, mulheres e crianças como trabalhadores forçados na construção civil, na agricultura, na pesca ou noutros âmbitos de mercado. Quantos menores são, ainda hoje, obrigados a alistar-se nas milícias que os transformam em meninos-soldados! Quantas pessoas são vítimas do tráfico de órgãos, da mendicidade forçada e da exploração sexual! 
 

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