5 de OUTUBRO
A comemoração da criação da República Portuguesa talvez seja uma oportunidade para falar do agora e não apenas do passado. A política também interessa
à escola porque o que interessa a todos deve ser discutido por todos. David Dinis é jornalista, tendo sido
fundador do Observador, director da TSF e do Público. É licenciado em
Comunicação Social e Cultural. Escreveu o texto a seguir:
O
Bloco de Esquerda e o PCP foram as peças centrais desta legislatura. Não é por
acaso que Marisa Matias fala de “um momento refundador na nossa democracia” e
António Filipe de uma governação que foi “ao contrário do que muitos diziam”.
Pela primeira vez, um e outro foram partes determinantes numa solução
governativa. Pela primeira vez os votos deles foram determinantes para o PS
governar e, ano a ano, se manter em funções.
Mas
não estranhe que cheguemos ao final da legislatura – e ao final de cada um dos
artigos aqui publicados na última semana – com um clima de acerto de contas.
Nos partidos à esquerda começa, agora, um exercício de acerto de contas que faz
parte das democracias: cada um tentando vincar a sua impressão digital numa
governação em que todo o esforço foi o de consensualização (e, portanto,
uniformização de posições).
O
início desta legislatura foi muito imprevisível, mas o final era fácil de
adivinhar: os partidos mais à esquerda a acentuarem as divergências, o PS a
afirmar a sua liderança, a direita a lutar contra a maré. Na prática, entrámos
em campanha eleitoral. É assim a natureza das democracias representativas:
dá-se quatro anos a um Governo que nos representa a todos para implementar um
programa; nos primeiros três faz-se o que é preciso para fazer o país melhor;
no último faz-se o que é preciso para ter mais votos. Cada um por si, outra
vez.
A
dúvida é se, depois da separação, os parceiros terão margem para voltar a
juntar-se. Nada o faz adivinhar.
Primeiro,
pela excecionalidade do que aconteceu em 2015: nessa altura, com o PSD a ganhar
em votos e deputados, só o apoio expresso e inequívoco do Bloco e PCP
permitiria passar ao país uma agenda política mais redistributiva.
Em
segundo lugar, pela matriz presidencial do momento: Cavaco Silva não tem a
informalidade de Marcelo, nem a sua flexibilidade tática, pelo que rapidamente
impôs aos partidos de esquerda um acordo escrito que os vinculava a um mandato
inteiro.
Em
terceiro lugar, pela economia: em 2015 o PIB já tinha arrancado, pondo fim a um
ciclo terrível de três anos de depreciação. A economia europeia ajudava,
crescendo a ritmo melhor com a importante ajuda do Banco Central Europeu. E
como mais crescimento permite mais margem para redistribuir, tudo isso
facilitou não só o acordo como a aprovação de três orçamentos com boas notícias
para todos: os necessitados e os prudentes, que valorizam o acerto das contas.
Só
os três fatores juntos permitiram a António Costa “deitar o muro abaixo”, fazer
do impossível um cenário possível.
Acontece
que nenhum dos três fatores determinantes para permanência desta maioria
estará, previsivelmente, de pé depois das próximas legislativas: o PS, desta
vez, deve ganhar eleições (e o direito natural a governar); Marcelo já não
exige um acordo escrito; e os tempos de crescimento da economia também se
anunciam menos entusiásticos.
A minha aposta, conhecendo os protagonistas e
lendo os artigos que aqui publicaram, vai portanto para uma campanha de rutura
suave – e para uma nova legislatura onde o PS tentará governar em minoria. Mas,
dito isto, a geringonça é tal e qual como diz António Filipe: “Ao contrário do
que muitos diziam”. Quem sabe?
in Ponto sj
Os alunos de História, depois de uma pesquisa na Biblioteca Escolar, apresentaram os seus trabalhos sobre a origem da República Portuguesa, da Bandeira e do Hino Nacional.
A Portuguesa
Heróis
do mar, nobre povo,
Nação
valente, imortal,
Levantai
hoje de novo
O
esplendor de Portugal!
Entre
as brumas da memória,
Ó
Pátria sente-se a voz
Dos
teus egrégios avós,
Que
há-de guiar-te à vitória!
Às
armas, às armas!
Sobre a
terra, sobre o mar,
Às
armas, às armas!
Pela
Pátria lutar
Contra
os canhões marchar, marchar!
Desfralda
a invicta Bandeira,
À luz
viva do teu céu!
Brade a
Europa à terra inteira:
Portugal
não pereceu
Beija o
solo teu jucundo
O
Oceano, a rugir d'amor,
E teu
braço vencedor
Deu
mundos novos ao Mundo!
Às
armas, às armas!
Sobre a
terra, sobre o mar,
Às
armas, às armas!
Pela
Pátria lutar
Contra
os canhões marchar, marchar!
Saudai
o Sol que desponta
Sobre
um ridente porvir;
Seja o
eco de uma afronta
O sinal
do ressurgir.
Raios
dessa aurora forte
São
como beijos de mãe,
Que nos
guardam, nos sustêm,
Contra
as injúrias da sorte.
Às
armas, às armas!
Sobre a
terra, sobre o mar,
Às
armas, às armas!
Pela
Pátria lutar
Contra
os canhões marchar, marchar!
Alfredo Keil
Alfredo Keil